segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A importância de sentir-se útil

Há pouco mais de uma semana, duas alunas do curso de psicologia da PUC foram até a empresa onde trabalho para conversar comigo sobre como é meu dia a dia por lá, se eu tive dificuldades para conseguir emprego e mais outras questões relativas a trabalho e pessoas com deficiência.
Acabei falando muito – como de costume –, mas depois fiquei com a sensação de que poderia ter abordado melhor alguns assuntos.
Poderia, por exemplo, ter falado mais sobre como trabalhar foi importante para mim há 9 anos atrás. Na época eu era estagiário e também fazia alguns trabalhos como free-lancer, o que me rendia o suficiente para meus gastos do dia a dia, saídas e pequenas viagens. Quando me tornei cadeirante, naturalmente, tive que me afastar temporariamente do estágio. Um mês depois, quando mal tinha começado meu tratamento de reabilitação, me deram um ultimato: ou voltava pro estágio ou cortariam a bolsa. Como ainda não tinha condições de trabalhar, acabei perdendo aquela fonte de renda justamente no momento em que mais precisava dela.
O pior de tudo é que, como estagiário, eu deveria ter um seguro contra acidentes pessoais, mas meu contratante não o tinha feito. Acabei saindo com uma mão na frente e outra atrás. Pensei em entrar na justiça, mas como o estágio era na própria faculdade, no NCE/UFRJ, e ainda teria que freqüentar aqueles laboratórios durante alguns anos para me formar, decidi não comprar a briga e me tornar “inimigo”, até porque eu precisaria da boa vontade deles para que rampas e outras adaptações fossem feitas na faculdade. Arrependo-me amargamente, pois fiquei sem o seguro e o NCE não moveu uma palha para fazer as adaptações que eu precisava.
Mas voltando à época do começo da reabilitação, no início de 1999, eu estava fisicamente, emocionalmente e financeiramente dependente. Não era capaz sequer de sair sozinho da cama para cadeira, não fazia mais estágio e era incapaz de encontrar um rumo. Sentia-me um completo inútil.
A grande virada começou quando um amigo me indicou para um projeto como free-lancer. O cliente ficava em São Paulo, e eu poderia realizar todo trabalho a partir de casa, usando meu computador, o telefone e a Internet para me comunicar. Até as reuniões seriam virtuais. E teria também flexibilidade total de horários, o que era estritamente necessário por causa das aulas na faculdade e sessões de reabilitação. Bati um papo por telefone com o tal cliente e fechamos o projeto, que começou logo em seguida. O cliente nem sabia que eu usava cadeira de rodas e isso foi muito bom para mim. Eu tinha sido contratado por ser um profissional bem recomendado, e não simplesmente para ajudarem um “pobre jovem recém cadeirante e precisando de dinheiro”. Sim, fez toda diferença! O projeto durou meses e foi um sucesso, mas o melhor de tudo mesmo foi voltar a trabalhar, ser tratado como profissional, ganhar meu próprio dinheiro e me sentir útil. Foi um dos meus primeiros grandes passos para independência.
Postado por: Caroline Pinto Lago

Nenhum comentário: